terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Évora


            Évora
A cidade não é muito grande, o trânsito não é exagerado, exceto naqueles dias de chuva torrencial, nos quais parece que todos os carros se juntam no mesmo sítio e o semáforo só transforma aquela irritante luzinha luminosa num verde esperançoso de maneira a suspirar alívio e a fazer-nos pensar que podemos chegar a horas, uma eternidade depois. De noite, tudo parece moribundo, nem uma mosca se atreve a bater as asas para longe daqui e atravessar o mortal silêncio; apenas os grandes candeeiros das ruas produzem uma somítica e atrevida luz, de maneira a iluminarem o caminho a quem se perde nas pequenas ruelas. Em nada esta pequena e melancólica cidade se compara com os grandes centros que, com luzes incandescentes e euforia incansável, não param de mexer e remexer extravagantemente, mas por vezes sabe bem respirar o ar menos poluído, sem constrangimentos e preocupações do dia seguinte que esta cidade nos proporciona.
            O lugar mais cativante em toda a cidade, para mim, é aquela rua inclinada, subindo interminavelmente a direito, repleta de ingénuas laranjeiras e terminando num local que tão boas memórias dos tempos irrequietos me traz, a minha antiga escola. Este sítio continua a ser a minha inspiração. Às vezes, percorro-o no meu caderno, decorado esporadicamente pelos meus momentos pensativos, por jogos solitários e desenhos primitivos mesmo a partir de um risco, nas últimas folhas. Com o caderno numa mão e o lápis noutra, subo e imaginariamente trepo a rua, com a brisa fresca dos dias primaveris e a vista esplendida das flores de laranjeira que hão de brotar para transmitirem um odor a pureza único àquele local, ou então, com a brisa abrasadora dos quentes dias de verão a aquecer-me o espírito e o cheiro suculento das apetitosas laranjas penduradas nas árvores e outras tantas caídas e abertas no chão que, ao inalar constantemente, invadem a minha mente. E mesmo quando o meu confidente caderno fica cheio, sei que o meu coração nunca há de ficar cheio de todos aqueles inesquecíveis momentos.
            A minha doce casa onde repouso, descanso, onde tudo é o meu sonho. Ahh! Não há nada melhor que o nosso pessoal e aconchegante lar! Da janela do meu quarto observo, todas as noites, as estrelas profundas, cintilantes e o luar cremoso e contrastante no céu escurecido por um qualquer pestanejar de olhos, que só retorna ao movimento na manhã seguinte; iluminam o meu vivido quintal, o meu cantinho de relva. Naquela pequena mata, por vezes, o meu curioso telescópio descobre, entre cheiros distintos e luzes artificiais, novos brilhos em mim e no céu. No meu sótão, uma abertura tão extensa quanto a rua onde me passeio deixa entrar a luz que me irradia a dia e a alma. Daquela destapada abertura alcanço além do que os olhos alcançam, sinto além do que o coração sente, porém quando começo a raciocinar, penso no que é aquilo para que estou a olhar. No qual as casas pálidas refletem a luminosidade, as ruas alinhadas de alcatrão, para tantas quedas me recordarem o parque que, mesmo desbotado pelo sol, não desbota os sorrisos daqueles que por lá passam; tudo isto emerge em mim a melhor sensação de sempre … a sensação de quem eu realmente sou, de onde estou, a sensação de ser alguém!
            Estes sentimentos de relaxamento, de conforto, de paz são os que esta cidade me desperta, pois a cidade de Évora é a minha cidade e nela sinto-me em casa e no meu coração será sempre tratada como tal!


Carolina Santos Martins
8ºE

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